,Manual de Transplante Renal
abto@abto.org.br Revisão: Dra. Maria Cristina Ribeiro de Castro Médica Nefrologista da Unidade de Transplante Renal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Manual de Transplante Renal
institucional de Novartis Biociências
André
Teixeira, Hudson Calasans, Iuri P. Augusto, Meire Vaccari
Tatiana Perri
Revisão Científica
5.000 exemplares.
Calçada das Palmas, 20, 2º andar – C. C. Alphaville. CEP 06453-000. Barueri - SP Fone: (11) 6014-5400 Fax: (11) 6014-5420 O conteúdo desta publicação é de responsabilidade do Grupo Lopso de Comunicação.
Este material destina-se à orientação de pacientes renais crônicos. Objetiva
esclarecer as dúvidas básicas que ocorrem no período pré-transplante renal.
Manual de Transplante Renal
Quando o rim apresenta problemas no seu funcionamento,
ele deixa de desenvolver essas funções corretamente.
Para solucionar essa falha existem duas alternativas:
medidas medicamentosas e dietéticas para
os casos menos graves, e substituição da função renal
nos casos mais severos através de diálise crônica ou de
realização de um transplante renal.
Manual de Transplante Renal
Pré-transplante
Sinais e sintomas
A grande maioria das doenças que prejudicam os
rins é silenciosa.
até 80%, sem que existam muitos sintomas.
São estes os principais sinais de alerta de um funcionamento
incorreto dos rins:
• urinar muito à noite;
• pressão alta;
• fraqueza e anemia;
• inchaço nos pés e no rosto.
Quais são as doenças que podem
levar ao transplante de rim?
Hipertensão arterial, diabetes, infecções urinárias
de repetição, calculose renal, nefrites e malformações
do aparelho urinário podem levar à
precoce e corretamente para que se evite a evolução
para doença terminal dos rins.
O transplante de rim
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste
na transferência de um órgão (coração, pulmão,
rim, pâncreas, fígado) ou tecido (medula óssea, ossos,
córneas) de um indivíduo para outro, a fim de compensar
ou substituir uma função perdida.
Sendo assim, no transplante de rim implanta-se um
rim sadio em um indivíduo portador de insuficiência renal
terminal.
,
que os rins doentes não conseguem mais manter. ,
Esse novo rim passará a desempenhar as funções insuficiência renal . Essas doenças devem ser diagnosticadas e tratadas Os rins podem perder sua função em Dra. Maria Cristina R. de Castro Revisão Ortográfica Isabel Gonzaga Tiragem foi produzido e editado pelo Grupo Lopso de Comunicação Ltda. com apoio. Diretora Geral Ana Maria Sodré Diretora Administrati Fernanda
Autoria Helga Bergold Assessoria Médica Dr. René Gross Criação e Diagramação
São cinco as principais funções dos rins:
• eliminar as impurezas do sangue;
• regular a pressão arterial;
• produzir hormônios;
• participar na formação e na manutenção dos ossos;
• estimular a produção de glóbulos vermelhos.
Manual de Transplante Renal
O transplante de rim só está indicado em pessoas que têm prejuízo irreversível e grave das funções renais. Após a indicação do transplante, o paciente é submetido a uma avaliação clínica que inclui vários exames. Eventualmente pode ser necessária uma internação hospitalar para essa avaliação. Quem pode ser doador? Qualquer pessoa adulta que seja saudável, tenha função renal normal e não apresente, durante extensa e minuciosa avaliação médica, evidências de risco de doença renal ou de outros órgãos vitais após a doação, pode ser doadora, desde que demonstre esse desejo espontâneo. Para o doador, a falta de um rim modifica muito pouco sua vida, já que a ausência de um rim será compensada pelo outro órgão sadio. O rim doado pode representar muito para o receptor. A doação por parte de indivíduos que apresentam distúrbios psiquiátricos, abuso de álcool, fumo ou drogas, e por pessoas de idade muito avançada, ou portadores de câncer é contra-indicada. Tipos de doador Um transplante renal pode ser realizado a partir de doadores vivos ou doadores falecidos. No primeiro caso, o doador passa a viver com apenas um rim, o que é perfeitamente compatível com uma vida normal. Quando o doador é vivo e tem parentesco próximo com o receptor, os resultados do transplante são superiores àqueles que se obtêm com rim de doador falecido. Doação de rim entre parentes é permitida pela cônjuges, desde que o doador seja maior de idade, tenha grupo sangüíneo compatível e testes de compatibilidade imunológica adequados. É necessário que o doador vivo cumpra os seguintes requisitos: • Encontre-se em bom estado de saúde física e mental; • Tenha compatibilidade sangüínea com o receptor; • Realize todos os exames preconizados para este tipo de cirurgia; • Tenha mais do que 21 anos; • Tenha passado pelo estudo imunológico; • Seja um doador voluntário. Indivíduos falecidos (pacientes que vão a óbito em quadro de morte encefálica), desde que se obtenha a autorização familiar, podem ter seus órgãos doados para receptores compatíveis e podem salvar inúmeras vidas. Cabe à família do paciente falecido dar a autorização para a doação de órgãos e tecidos. Pessoas não identificadas ou com causa de morte não esclarecida não podem ser doadoras. É necessária compatibilidade de tipo sangüíneo e de sistemas imunológicos entre o doador e o receptor para evitar que o rim implantado seja imediatamente rejeitado. Legislação vigente A primeira lei que regularizou o transplante de órgãos foi a n.
Lei n.
vida. Ela permitia que qualquer pessoa juridicamente
capaz pudesse doar para transplante um de seus órgãos
duplos, desde que a doação não comprometesse a sua
saúde e que fosse de forma gratuita.
Pré-transplante
8,
Manual de Transplante Renal 4.280/63. Em janeiro de 1998 entrou em vigor a,
9.434/97, que ampliava os critérios da doação em
Quem pode ser transplantado?
Pré-transplante O rim e suas funções
Manual de Transplante Renal
Proibição da comercialização de órgãos;
• Definição dos critérios para a doação (doador vivo e
falecido);
• Punição para os infratores;
• Exibição pública da lista de espera;
• Proibição de doação por pessoa não identificada (sem
documentos) ou sem autorização familiar .
Em 23 de março de 2001, foi editada a Lei n.
0
10.211,
que no seu Art. 9.
de tecidos, órgãos e partes do corpo vivo para
fins terapêuticos ou transplantes em cônjuges ou parentes
consangüíneos até o quarto grau (pais, filhos, irmãos,
avós, tios e primos), ou em qualquer outra pessoa, mediante
autorização judicial”.
Lista de espera
Atualmente, os centros de transplante encontram-se
bem equipados e possuem equipes treinadas para reduzir
cada vez mais as longas filas de espera por um transplante
renal. O fator limitante (tanto no Brasil como em
outros países) é a carência de órgãos para atender às
necessidades dos pacientes portadores de insuficiência
renal crônica. O aumento da prevalência na população
geral de doenças como hipertensão arterial e diabetes, e
também o envelhecimento da população, fazem com
que essa fila cresça constantemente.
Cabe à equipe transplantadora avaliar os pacientes renais
crônicos e estabelecer quais os que têm condições
de receber um transplante. Aqueles que já foram avaliados
e incluídos em lista para transplante com doador
Resumidamente essa lei determina:
Pré-transplante
Manual de Transplante Renal 9 falecido podem ser chamados a qualquer momento, por isso é muito importante que sejam facilmente localizados, mantendo o endereço residencial e telefones atualizados, e que estejam em boas condições para a cirurgia. Esse período de espera é variável e depende da oportunidade de surgir um doador que seja aceito pela equipe de transplante e compatível com o receptor. * Programa de Transplante de Rim: no prazo de 90 (noventa) dias após o início do tratamento dialítico, as unidades de diálise devem obrigatoriamente apresentar ao paciente apto, ou ao seu representante legal, a opção de inscrição em uma equipe de transplante renal. É a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – setor da Secretaria de Estado da Saúde – a responsável pelo recebimento das inscrições que são encaminhadas pelas equipes de transplante, armazenando os dados de todos os pacientes em espera. É ela também que recebe as informações sobre doadores e realiza a seleção dos pacientes para distribuição dos órgãos de doador cadáver. No Brasil, há leis que regem as listas de transplante e os critérios de distribuição de órgãos, que são sempre técnicos e médicos. Seleção do doador O melhor doador de rim é aquele que, além da compatibilidade do tipo sangüíneo, tenha os antígenos de histocompatibilidade (HLA) – compatibilidade do tecido
– . Assim, os melhores
doadores são os irmãos gêmeos univitelinos, que são raros. Em segundo lugar na preferência para a doação, vêm irmãos e/ou irmãs com antígenos de histocompatibilidade idênticos. Por último estão os doadores distintos imunologicamente. Pré-transplante 10
Manual de Transplante Renal
O transplante de doador vivo é um processo que segue, normalmente, os seguintes passos: 1. São afastadas as contra-indicações de ordem física e de fundo emocional; 2. Compara-se o grupo sangüíneo do doador com o do receptor, que devem ser compatíveis; 3. Realiza-se a prova-cruzada (cross-match) para avaliar se existem anticorpos no receptor dirigidos contra os antígenos do doador, que possam causar rejeição imediata; 4.Verifica-se a compatibilidade (HLA), semelhança entre o receptor e o doador; 5. Estuda-se o doador para verificar se ele pode doar sem prejuízos para a sua saúde e se não tem alguma doença transmissível; 6. Inicia-se, antes da cirurgia, o tratamento do receptor com drogas imunossupressoras. Para o doador em morte encefálica há uma rotina e um protocolo nacionais que são seguidos rigidamente pelas equipes de captação. Os principais passos são os seguintes: 1. Constatar a morte encefálica e obter a autorização da família; 2. Afastar qualquer doença que inviabilize o transplante; 3. Reconhecer a viabilidade do órgão a ser doado; 4.Realizar as provas de compatibilidade; 5. Procurar o receptor mais adequado; 6.Enviar o órgão ao local da cirurgia do receptor. É muito importante, tanto para o transplante com doador vivo quanto com falecido, que o sangue e os tecidos sejam compatíveis. Essa semelhança evita que o sistema de defesa imunológica do receptor estranhe o novo rim e o rejeite. Tal compatibilidade é determina- , , Pré-transplante da por vários fatores: tipo sangüíneo (ABO), antígenos de histocompatibilidade (HLA). Principais exames do pré-transplante r
Manual de Transplante Renal
Tipagem sangüínea: verifica a compatibilidade dos
r
Tipagem (análise do HLA): exame realizado nos
r
Prova-cruzada de linfócitos (cross-match): revela
O O O, A, B, AB A O, A A, AB B O, B B, AB AB O, A, B, AB AB Grupo sangüíneo Pode receber órgão de pessoa do tipo Grupos Sangüíneos para Transplante Pode doar para pessoa do tipo 12
Manual de Transplante Renal
Uretrocistografia miccional e retrógrada: estudo
r
Raio X de tórax: radiografia da região do tórax, que
realizar um exame ginecológico, incluindo Papanicolaou e
mamografia pelo menos seis meses antes do transplante.
,
um exame minucioso da próstata, nos pacientes com
mais de 40 anos pelo urologista, pelo menos um ano
antes do transplante.
Pré-transplante
Manual de Transplante Renal
,
Acompanhamento psicológicoO portador de insuficiência renal crônica normalmente
convive com uma série de
seu cotidiano:
submeter ao transplante renal, e expectativa de melhoria
na qualidade de vida.
Alguns fatores podem desencadear um quadro de
estresse ou depressão
• Natureza crônica da insuficiência renal (quando os
rins estão sempre doentes);
• Natureza progressiva dos sintomas (mesmo com
medicamentos, ou com diálise, os rins deixam de
funcionar);
• Cansaço fácil;
• Dificuldades para dormir;
• Medo de morrer;
• Alterações da imagem corporal (edema, palidez);
• Função sexual alterada;
• Alterações no desempenho do papel na família e na
sociedade, no sentido de maior dependência;
• Atividade física limitada, de acordo com o estágio da
doença;
• Dificuldade para exercer a atividade profissional, com
a possibilidade de perda de emprego;
• Falta de habilidade para o autocuidado (tomar banho
sozinho, vestir-se, calçar-se, pentear-se, barbear-se,
maquiar-se, alimentar-se sem ajuda, escovar os dentes,
etc.).
É necessário sempre estimular a capacidade do paciente
para se adaptar de maneira positiva ao novo estilo
de vida. Problemas psicológicos – especialmente a depressão
– podem ocorrer em receptores, doadores,
Pré-transplante
14
Manual de Transplante Renal
doadores não aceitos e eventualmente também nos familiares. Porém, se todos manifestarem otimismo no pré-operatório (claro que acompanhado pelos cuidados necessários deste período), isso implicará um melhor prognóstico, e o acompanhamento psicólogo pode aumentar as chances de uma recuperação sem complicações. Procedimentos do pré-operatório O objetivo desta etapa é
do organismo ao nível mais próximo possível da normalidade.
Um exame físico completo é realizado para
detectar e tratar qualquer distúrbio que possa causar
complicações após o transplante. As tipagens HLA e
sangüínea e a pesquisa de anticorpos são realizadas
para determinar a compatibilidade dos tecidos do doador
e do receptor. Outros inúmeros exames diagnósticos
devem ser realizados para identificar problemas
que exigem tratamento antes do transplante. O trato
urinário inferior é examinado para avaliar a função do
colo da bexiga e detectar refluxo vesicuretral.
Também é necessária uma avaliação psicológica
para investigar a habilidade do paciente em adaptar-se
ao transplante e ao estresse, que pode surgir com a sua
proximidade. É importante verificar a história de possíveis
doenças psiquiátricas, já que elas podem ser agravadas
pelos corticosteróides necessários à
imunossupressão após o transplante.
Poderá ser realizada sessão de diálise no dia anterior
ao transplante de modo a melhorar o estado físico do
Manual de Transplante Renal
,
daqueles das cirurgias abdominais de grande porte:
higiene pulmonar pré-operatória, tricotomia (raspagem
dos pêlos), higiene do corpo. Após o transplante
podem ser necessárias medicações para o tratamento
da dor, restrições hídricas e dietéticas, restrições de visitas
e acompanhantes, escolha de vias arteriais e
intravenosas, cateteres, drenos e sondas.
Antes do transplante, é preciso ainda identificar alguns
fatores de risco cirúrgico e estratégias preventivas,
tais como:
• Exames adicionais – caso o paciente seja diabético,
portador de doenças cardíacas ou tenha histórico de
outros problemas de saúde;
• Redução de peso – está indicada, pois a obesidade
incrementa o risco de infecção da ferida cirúrgica;
• Dieta adequada ao estado de saúde – em geral
com restrição de sal, pouca proteína (carne, ovo, queijo)
e proibição de gorduras;
• Hidratação – a desidratação pode causar efeitos
adversos na anestesia geral, podendo provocar até
choque ou arritmias cardíacas;
• Transfusão sangüínea – deve ser evitada ao máximo
até o transplante, para minimizar o desenvolvimento
de anticorpos contra os possíveis doadores;
• Medicamentos e alimentos – toda ingestão de medicamento
ou alimento deve ser informada ao médico,
pois muitas vezes eles interagem entre si
(interação medicamentosa e/ou interação alimentar),
podendo causar problemas clínicos ou ineficácia das
drogas imunossupressoras.
receptor. Os demais cuidados pré-operatórios não diferemPré-transplant
Em caso de transplante com doador vivo, a internação
ocorre com um a três dias de antecedência ao dia da
cirurgia, para a realização de alguns exames específicos
ou preparo adequado ao transplante. Dependendo
do hospital, as prescrições médicas e o encaminhamento
para a cirurgia deverão ser apresentados, além
da assinatura do Termo de Autorização (veja modelo
na página 30), acrescido da assinatura de testemunhas.
É importante que essa permissão seja dada, com o total
esclarecimento ao paciente e aos seus acompanhantes
sobre o procedimento cirúrgico a ser realizado. No
caso de menores de idade ou pessoas portadoras de
distúrbios mentais, o responsável providenciará esse
termo, além da entrega dos exames laboratoriais e de
imagem realizados anteriormente. No prontuário serão
adicionadas anotações importantes como dados
pessoais e físicos (endereço, telefone de contato, alergias,
hábitos, tipo de atividade física, queixa principal,
indicação de cirurgia e anestesia), como também resultados
dos inúmeros exames que tenham sido realizados.
Normalmente são dadas informações ao paciente
para que este possa familiarizar-se com o ambiente
hospitalar e sua rotina.
Alguns procedimentos que são feitos na internação são:
• colocação de vestimentas próprias do hospital;
• realização de um exame físico completo;
• entrega de todos os pertences para a família.
Internação
Manual de Transplante RenalPré-transplante
Manual de Transplante Renal
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Procedimentos iniciais
• Jejum: é suspensa toda ingestão de líquidos e alimentos
com pelo menos seis horas de antecedência;
• Banho: deverá ser feito com um sabonete anti-séptico;
• Infusão intravenosa: aplicação de soro na veia, em
geral no braço;
• Lavagem e demarcação da área cirúrgica;
• Administração de medicação pré-anestésica;
• Transferência do paciente para a sala de cirurgia
onde será realizado o transplante.
Cirurgia do doador
A cirurgia do doador começa quase no mesmo momento
em que a do receptor
contíguas, com duas equipes diferentes. No caso do
doador vivo, faz-se a retirada do órgão selecionado,
realiza-se a técnica de preparo do rim e então ele é levado
à equipe médica que está esperando para o implan-
A cirurgia
A cirurgia
te. Se for doador falecido, o rim é retirado previamente,
lavado, resfriado e guardado em recipiente específico
para mantê-lo gelado (o tempo máximo para retirada é
de 30 minutos após a parada do coração, podendo o
mesmo suportar até 48 horas como tempo máximo de
preservação extracorpórea – o ideal é que seja transplantado
dentro das primeiras 24 horas). A permanência
do doador vivo no hospital é de três a quatro dias,
tempo em geral previsto para essas cirurgias. Várias
são as técnicas possíveis de retirada de um rim para
doação, elas devem ser discutidas detalhadamente com
o cirurgião antes do procedimento.
Manual de Transplante RenalCirurgia do receptor
Para o implante do novo rim é criado um espaço, na
parte acima e ao lado da bexiga, onde se torna mais fácil
reconstruir as estruturas necessárias. Após o rim ser implantado,
este começa a funcionar, produzindo urina e
iniciando a depuração do sangue, eliminando todos os
produtos tóxicos do organismo, da mesma maneira como
faziam os rins próprios do paciente quando eram saudáveis.
O novo rim pode começar a funcionar imediatamente
(e então já não será preciso mais fazer a diálise),
ou pode levar algumas semanas para retomar suas atividades
(sendo necessário neste caso retornar à diálise).
Os rins próprios do receptor, geralmente, permanecem
onde eles estão, a menos que estejam causando infecção
ou hipertensão grave. Algumas vezes o corpo reconhece
o novo rim como uma coisa estranha e busca
eliminá-lo. Chama-se a isso de reação de rejeição aguda.
A vida no pós-transplante
Os resultados dos transplantes renais são excelentes.
Manual de Transplante Renal
estatística positiva, quando comparada a transplantes decirurgia
,
lugar, porque um grande percentual desses transplantes
é realizado com doadores vivos aparentados, o
que aumenta de modo significativo a disponibilidade dos
rins para transplante; em segundo lugar, existe a possibilidade
de o paciente portador de insuficiência renal crônica
ter uma longa sobrevida em programas de diálise, enquanto
o ato do transplante não chega.
Outra vantagem do transplante de rim é que ele oferece
uma chance de melhor qualidade de vida e uma
independência da diálise. A diálise, por melhor e mais
moderna que seja, não substitui plenamente o rim, mas
o rim transplantado sim. Aquelas pessoas que se submeteram
a um transplante renal com êxito, podem ter
uma dieta mais próxima do normal e ingerir líquidos de
forma mais liberal. O mesmo pode se dizer de sua atividade
física.
outros órgãos, deve ser atribuída a dois fatores: em primeiroO paciente necessitará, no entanto de seguimento médico
e uso constante de medicações imunossupressoras
seu organismo.
Vantagens:
• O rim transplantado funciona como um rim normal;
• O paciente sente-se mais saudável;
• Há poucas restrições na dieta;
• Não há mais necessidade de diálise.
Possíveis desconfortos:
• É necessário submeter-se a uma cirurgia;
• Um doador compatível é imprescindível;
• Existe a possibilidade de o organismo rejeitar o novo rim;
• Há necessidade de usar medicamentos para o resto
da vida.
A cirurgia
,
É um vírus muito comum na população em geral. É
causa freqüente de doenças em pessoas cujo sistema
imunológico não funciona bem, como pacientes
infectados pelo HIV e receptores de transplante de
órgãos sólidos (TOS). Nos receptores de TOS, o
CMV pode provocar pneumonite, hepatite, encefalite
e doença gastrintestinal, bem como efeitos indiretos,
incluindo redução da sobrevida do paciente em longo
prazo, aumento dos riscos de infecções oportunist
Glossário
Citomegalovírus (CMV)
Manual de Transplante RenalProduto do metabolismo muscular excretado na
urina. As concentrações sangüíneas são a expressão
da função renal. Com a sua deterioração, a capacidade
do rim para excretar a creatinina diminui e sua
concentração aumenta no sangue.
Diálise
Procedimento de depuração extra-renal, permitindo extrair
os resíduos tóxicos acumulados, pela limpeza do
sangue por um filtro acoplado a uma máquina
(hemodiálise) ou através da cavidade peritoneal, que é
irrigada por uma solução ligeiramente hipertônica.
Hemodiálise
Modo pelo qual ocorre a depuração extra-renal que limpa
o sangue dos resíduos tóxicos por difusão através
de uma membrana semipermeável (filtro).
Glossário
Manual de Transplante Renal
21
Glossário
Glomérulo
Região do néfron onde ocorre a filtração do sangue, e
que se localiza na porção anterior de cada túbulo renal,
responsável pela formação da urina inicial.
Néfron
Menor unidade funcional do rim. Cada rim possui mais
de um milhão de néfrons.
Rejeição
Processo pelo qual o sistema imunológico reconhece
o órgão transplantado como estranho e ativa o sistema
de defesa para destruí-lo.
22
Manual de Transplante Renal
É alta, superior a 80% no final do primeiro ano. Mas muitos fatores dependem de particularidades dos pacientes, o que impede uma resposta mais precisa. Existem, no Brasil, pessoas que fizeram transplante de rim, por exemplo, há mais de 30 anos, tiveram filhos e levam uma vida normal. Além dos riscos inerentes a uma cirurgia de grande porte, os principais problemas são infecção e rejeição. Para controlar esses efeitos o transplantado usa medicamentos pelo resto da vida. Transplante não é cura, mas um tratamento que pode prolongar a vida com muito melhor qualidade. Nem todos os pacientes em diálise se beneficiam de um transplante. Quanto custa um transplante e quem paga por isso? Mais de 80% das cirurgias no Brasil são feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Boa parte dos planos privados de saúde recusa-se a cobrir os custos desse tipo de tratamento, que pode variar entre R$ 20.000,00 e R$ 80.000,00. Manual de Transplante Renal 23 Quem paga os procedimentos de doação? A família não deve pagar pelos procedimentos de manutenção do potencial doador, nem pela retirada dos órgãos, já que existe cobertura do SUS para isso. Se não houver na família alguém em condições de doar um rim, o que se deve fazer? Não havendo possibilidade de transplante com doador vivo relacionado, pode-se entrar na lista de espera para transplante com doador falecido. Caso isso aconteça, será colhida uma amostra de soro do receptor a cada três meses, que será encaminhada ao laboratório de histocompatibilidade. Se aparecer um doador falecido com a mesma tipagem sangüínea, o soro servirá para a realização da prova cruzada com células do doador, para verificar se o organismo do receptor aceitará o novo rim. Como saber quem pode ser doador de rim em vida? Através de consulta médica e uma série de exames de sangue, urina, radiológicos e eletrocardiograma para comprovar que os rins e demais órgãos estão perfeitos. Todos pacientes com insuficiência renal crônica são candidatos a transplante renal? Não. Pacientes que tiveram câncer, pacientes com infecções, pacientes com doença grave do fígado ou do coração não podem fazer transplante. Porém, cada caso é analisado individualmente junto com o médico. Quando é possível doar? A doação de órgãos como rim, parte do fígado e da medula óssea pode ser feita em vida. Em geral, porém, Perguntas mais freqüentes 24 Manual de Transplante Renal
nos tornamos doadores em situação de morte encefálica e quando a nossa família autoriza a retirada dos órgãos. Quais são os riscos da doação? A cirurgia é feita com anestesia geral e esse é o maior risco, embora seja um risco pequeno. Uma avaliação clínica completa do doador é feita para que os riscos sejam diminuídos ao máximo. O que é morte encefálica? Morte encefálica é a parada definitiva e irreversível do encéfalo (cérebro e tronco cerebral), provocando em poucos minutos a falência de todo o organismo. No diagnóstico de morte encefálica, primeiro são feitos testes neurológicos clínicos, que são repetidos seis horas após. Depois dessas avaliações, é realizado um exame complementar (eletroencefalograma, arteriografia, doppler transcraniano ou outro) para confirmação do diagnóstico. Uma pessoa em coma também pode ser doadora? Coma é um estado reversível. Morte encefálica, como o próprio nome sugere, não. Uma pessoa somente se torna potencial doadora após o correto diagnóstico de morte encefálica e da autorização dos familiares para a retirada dos órgãos. Como o corpo é mantido após a morte encefálica constatada? O coração bate graças ao uso de medicamentos, o pulmão funciona com a ajuda de aparelhos e o corpo continua sendo alimentado por via endovenosa. Perguntasfreqüentes
Manual de Transplante Renal 25 Como proceder para doar após a morte encefálica constatada e o que acontece depois de autorizada a doação? Um familiar pode manifestar o desejo de doar os órgãos. A decisão pode ser dada aos médicos, ao hospital ou à Central de Transplante mais próxima. Desde que existam receptores compatíveis, a retirada dos órgãos é realizada por várias equipes de cirurgiões, cada qual especializada em um determinado órgão. O corpo é liberado após, no máximo, 48 horas. Quem recebe os órgãos doados? Testes laboratoriais confirmam a compatibilidade entre doador e receptores. Após os exames, a triagem é feita com base em critérios como tempo de espera e urgência do procedimento. Nem o doador, nem a família podem escolher o receptor. Este será sempre indicado pela Central de Transplantes. O que é prova cruzada ou É o exame no qual se mistura o sangue do receptor e do doador para ver se há possibilidade de rejeição nas primeiras horas pós-transplante. Se for positivo, o transplante não pode ser realizado, pois a chance de rejeição imediata é de quase 100%. O que significa rejeição? Rejeição é o termo usado para descrever a reação do corpo ao novo rim. Algum grau de rejeição é esperado; alguns pacientes a terão durante a primeira ou segunda semana após o transplante. Existem várias maneiras de prevenir e tratar a rejeição, e na maioria das vezes ela é solucionada. Perguntas mais freqüentes 26 Manual de Transplante Renal
O nefrologista faz a avaliação da existência ou não do processo de rejeição. Porém, alguns sinais e sintomas devem ser observados: • Dor ou inchaço sob o rim transplantado; • Febre acima de 37 graus Celsius; • Diminuição da urina; • Rápido e grande ganho de peso; • Inchaço de pálpebras, mãos e pés; • Dor ao urinar; • Urina fétida ou sanguinolenta; • Aumento na pressão sangüínea; • Tosse ou falta de ar; • Perda da sensação de bem-estar. É verdade que o transplante renal não é recomendado para maiores de 70 anos? O transplante renal é recomendado numa faixa etária com expectativa de vida de mais de 10 anos, em função da complexidade e gravidade do tratamento. Um organismo perto dos 70 anos às vezes tem dificuldade de suportar bem uma grande intervenção cirúrgica. Em relação ao doador, nessa faixa etária não há regeneração do parênquima renal, sobrecarregando o rim remanescente e criando situações clínicas desfavoráveis. Por que é necessário tomar medicamentos especiais depois do transplante? O organismo tem um sistema muito complexo (sistema imunológico) que reage contra órgãos estranhos. Como o rim transplantado é reconhecido como “estranho”, o organismo reagirá contra ele e tentará destruí-lo, a menos que seja dada uma medicação para diminuir essa reação. Tais medicamentos são chamados de medicamentos imunossupressores. Perguntas mais freqüentes
Manual de Transplante Renal 27 Que fatores físicos podem contra-indicar o transplante? • Insuficiência cardiopulmonar; • Obesidade mórbida; • Doença periférica e vascular cerebral; • Fumo em excesso; • Insuficiência hepática; • Outros fatores que aumentam o risco de um grande procedimento cirúrgico. Perguntas mais freqüentes 28 Manual de Transplante Renal
BRASIL. Lei n.º 10.211, de 23 de março de 2001. Altera dispositivos da Lei n.º 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Diário Oficial da União, Brasília, 24 mar. 2001. (Edição extra). CESARINO, C. B.; CASAGRANDE, L. D. R. Paciente com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico: atividade educativa do enfermeiro. Rev. Latino-americana Enfermagem, v. 6, n. 4, 1998. DIRETRIZES em transplante renal. Brasília: Conselho Federal de Medicina, abr. 2002. ELLIS, J. R.; HARTLEY, C. L. Enfermagem contemporânea: desafios, questões e tendências. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. GARNIER, J.; DELAMARE, J. Dicionário de termos técnicos de medicina. 2 ed. São Paulo: Andrei, 1984. HARGROVE-HUTTEL, R. A. Enfermagem médico-cirúrgica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. LIMA, E. D. R. de P.; MAGALHÃES, M. B.; NAKAMAE, D. D. Aspectos legais da retirada e transplante de tecidos, órgãos e partes do corpo humano. Rev. Latinoam. Enfermagem, v. 5, n. 4, p.5-12, 1997. Referências Bibliográficas
Manual de Transplante Renal 29 Referências Bibliográficas NORONHA, I. L. (Coord.). Diretrizes em transplante renal. Projeto Diretrizes. Brasília: Conselho Federal de Medicina. Associação Médica Brasileira, 2002. PARIZI, R. R.; SILVA, N. M. Transplantes. In: COSTA, S. I. F; GARRAFA, V.; OSELKA, G. (Org.). Iniciação à bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 1998. p. 157-169. PASSARINHO, L. E. V.; GONÇALVES, M. P.; GARRAFA, V. Estudo bioético dos transplantes renais com doadores vivos não-parentes no Brasil: a ineficácia da legislação no impedimento do comércio de órgãos. Rev. Assoc. Med. Bras., v. 49, n. 4, 2003. SILVA FILHO, A. P.; NORONHA, I. Manual de transplante renal. São Paulo: Manole, 2003. SMELTZER, S. C.; BARE, BG. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. TERMO DE RESPONSABILIDADE DE CONSENTIMENTO INFORMADO. (Consentimento Informado – Norma Técnica Resolução SS-169 de 16/06/96) 1. Autorizo o (a) Dr.(a) _____________ a realizar o tratamento clínico ou a seguinte cirurgia: _____________________________________________________________________________________________________________________________________. 2. O (A) Dr.(a) explicou-me claramente a proposta do tratamento, procedimento ou cirurgia a que serei submetido (a), bem como seus benefícios, riscos, complicações potenciais e alternativas. Tive a oportunidade de fazer perguntas e todas foram respondidas satisfatoriamente. Entendo que não exista garantia absoluta sobre os resultados a serem obtidos. 3. Autorizo qualquer outro procedimento/tratamento incluindo transfusão de sangue ou hemoderivados, em situações imprevistas que possam ocorrer e necessitem de cuidados diferentes daqueles inicialmente propostos. 4. Autorizo que qualquer órgão ou tecido removido cirurgicamente possa ser encaminhado para exames histopatológicos ou microbiológicos pertinentes. ( ) Paciente ( ) Responsável Grau de parentesco: _________________________ Assinatura: _____________________________________________________________ Nome em letra de forma: __________________________________________________ A testemunha confirma que a assinatura é do: ( ) Paciente ( ) Responsável Assinatura: _____________________________________________________________ Nome em letra de forma: __________________________________________________ TERMO DE RESPONSABILIDADE MÉDICA (A ser preenchido pelo médico) Certifico que expliquei detalhadamente ao paciente abaixo referido ou ao seu responsável, o tratamento clínico, procedimento cirúrgico/cirurgia, seus benefícios e alternativas. Respondi satisfatoriamente todas as perguntas do paciente, e considero que o paciente/responsável compreendeu o que lhe foi explicado. Assumo a responsabilidade pela realização do tratamento clínico ou procedimento cirúrgico/cirurgia a que será submetido(a): Sr.(a): _________________________________________________________________ Nome: ___________________________________ Assinatura: ___________________ CRM: ___________________ São Paulo, ____/____/____ Hora: ________:________h TERMO DE CIÊNCIA E CONSENTIMENTO PARA PROCEDIMENTO ANESTÉSICO (Consentimento Informado – Norma Técnica Resolução SS-169 de 16/06/96) 1. O(A) Dr.(a) ______________________________________ explicou-me a proposta do procedimento anestésico a qual serei submetido(a), bem como seus benefícios, riscos, complicações potenciais e alternativas ao procedimento. Tive a oportunidade de fazer perguntas, as quais foram respondidas inteira e satisfatoriamente. Entendo que não existe garantia absoluta sobre os resultados a serem obtidos. 2. Autorizo o(a) Dr.(a) ________________________________ ou um anestesista credenciado do HASP a realizar em minha pessoa ou no(a) paciente, o seguinte procedimento anestésico:____________________________________________ou outros procedimentos necessários frente a situações imprevistas que possam ocorrer e necessitem de cuidados diferentes daqueles inicialmente propostos. 3. Confirmo que li e compreendi os itens acima. ( ) Paciente ( ) Responsável Grau de parentesco: _______________________ Identidade nº: ______________________________ Assinatura: ________________________________ Nome em letra de forma: _______________________________________________ A testemunha confirma que a assinatura é do: ( ) Paciente ( ) Responsável Identidade nº: ______________________________ Nome em letra de forma: _______________________________________________ A ser preenchido pelo médico anestesista Certifico que expliquei detalhadamente ao paciente abaixo referido ou ao seu responsável, o procedimento anestésico, seus benefícios e alternativas. Respondi satisfatoriamente todas as perguntas do(a) paciente, e considero que o(a) paciente/responsável compreendeu o que lhe foi explicado. Assumo a responsabilidade pelo procedimento anestésico a que será submetido(a): Sr.(a): _________________________________________________________________ Nome: _____________________________ Assinatura: _________________________ CRM: ____________________________ São Paulo, ____/____/____ Hora: ____/____ 3ª CAPA 6056843 MY LIVRETO PRE TX 5 0706BR APOIO : Referências Bibliográficas Como saber se está havendo rejeição?
Perguntas mais freqüentes
Qual a chance de sucesso de um transplante?
pois o novo rim será sempre um “corpo estranho” no, em salas próximas ou trazer o estado metabólicoPré-transplante
nesses pacientes: dúvidas e alterações nosessões de diálise, possibilidade de se Exame da próstata (quando homem): deve ser feito
ser realizada antes do transplante, para se ter certeza de
que não há infecção ou cáries.
o ritmo cardíaco.
permite observar a silhueta do coração e pulmões.
de raios X realizado para determinar a função da bexiga,
e a capacidade e estrutura dos ureteres (os pequenos
tubos que conectam os rins com a bexiga). Para
fazer esse exame, um pequeno cateter é colocado na
bexiga, que deverá receber água até que fique bem
cheia. O cateter é retirado imediatamente após a conclusão
do exame.
r
se o receptor tem anticorpos dirigidos contra os
antígenos do doador e se rejeitará o órgão. Prova-cruzada
positiva: significa que existem anticorpos e pode
ocorrer uma forte reação entre doador e receptor (é
provável que o receptor rejeite esse rim). Nesse caso o
transplante é em geral contra-indicado.
leucócitos ou células brancas do sangue. A tipagem
identifica a compatibilidade (características similares)
entre os indivíduos. O fato de receber um órgão de
uma pessoa com características similares (ou antígenos
semelhantes) pode aumentar o êxito do transplante.
tipos de sangue do doador e do receptor.