A atuação do Serviço Social junto ao paciente renal crônico e sua família
Texto retirado da web, escrito por Cristina vieira(assistente social)
Cristina viera
Assistente Social
Crisvieira_702@hotmail.com
O trabalho do Serviço Social na saúde, especificamente no tratamento de paciente em programa de hemodiálise, visa cada vez mais dar assistência integral ao paciente, aprimorando as técnicas e processos de trabalho, fundamentais para possibilitar a melhoria da qualidade de vida do paciente renal e sua família.
Quando uma pessoa encontra-se numa situação de conflito com o inicio da doença renal crônica, que através de sua manifestação quebra a dinâmica e as relações existentes com o indivíduo e o mundo, é necessário dar a esta pessoa muita atenção, pois o sucesso no tratamento depende em primeiro lugar da aceitação da proposta de tratamento pelo paciente e do seu adequado cumprimento.
A doença surge como um inimigo que deve ser estudado e combatido. Para isso existe medicamentos e profissionais de saúde. Muitas vezes, parece que se esquece o significado do adoecer, cuidando apenas do órgão prejudicado, dividindo o indivíduo entre corpo e mente, esquecendo-se da história pregressa pessoal, familiar e social.
No entanto, a doença renal crônica não tem a perspectiva de recuperação, restando à pessoa que foi acometida desta enfermidade, o esforço para se adaptar a vida com a doença, ou seja, se reestruturar quase que por completo para poder assim viver, na medida do possível com qualidade, apesar das limitações e perdas impostas pela enfermidade. Como observamos no relato abaixo.
porque o que agravou minha doença foi o sistema nervoso, porque? Por causa da desarmonia que eu tinha, porque é um todo, é o emocional, social, econômico e espiritual é tudo que envolve. Então o que acontece, como eu já tinha a insuficiência Renal e a família não me entendia meu estado emocional, não estava entendendo, eu estava assim me sentindo fechada, e o que estava acontecendo, desesperadamente eu procurava uma pessoa pra conversar (...) Assistente Social na época não tinha (...) (Paciente transplantada, mulher, 42 anos).
Quando uma pessoa, que sustenta a família, é acometida pela doença renal crônica, ocasiona interferência no trabalho, unindo-se a falta de recursos econômicos, e os gastos com a medicação, como podemos observar nos depoimentos.
eu não estava bem, mas comecei a trabalhar em uma loja, só que não agüentei, eu me cansava muito fácil, a pressão estava sempre alta (...) aí eu ficava em casa, ia na hemodiálise de manhã e a tarde eu dormia, descansava. Não tem como você arrumar um emprego assim, que tu possa assumir uma responsabilidade (...) (Paciente em tratamento de hemodiálise, mulher, 29 anos)
Eu parei de trabalha, eu fiquei um ano e dois meses sem trabalha (...) (Paciente transplantada, mulher, 42 anos).
A discriminação do paciente pelo mercado de trabalho revela a falta de flexibilidade no mundo do trabalho, que não absorve a mão de obra qualificada como doente, transformando-a em incapaz e excluída.
É importante lembrar que a doença renal crônica gera uma série de limitações, restrições e incapacidades ao paciente que está lutando constantemente no sentido de compreender e aceitar a doença para, assim, conseguir vivê-la.
Depois da Insuficiência renal crônica, mudou radicalmente toda a minha vida. Alimentação controlada(...) higiene sempre organizada. Atividades físicas eu continuei a praticar esportes e andar de bicicleta. Sexualidade não era normal como antes (Paciente homem, transplantado 26 anos).
Mais tirar o sal, no começo tirar o sal da comida, mas prá ser sincera, eu nunca respeitei muito não, eu sempre comi o que eu queria (Paciente em tratamento de hemodiálise, mulher, 29 anos).
O paciente precisa seguir o tratamento com eficácia e até vir a suportar restrições e efeitos colaterais da medicação, além de que, precisa entender que estas dificuldades todas podem representar a melhoria da qualidade de vida.
O médico prescreve os medicamentos, a enfermeira orienta sobre o tratamento, a nutricionista sobre a alimentação e o uso moderado do sal e dos líquidos. Entretanto, as alternativas sociais que precisa mobilizar para que o paciente conviva com o sofrimento, com as perdas e restrições é uma tarefa que se encontra na atuação do Serviço Social.
Segundo Gentilli (1999, p. 04)
Trata-se de toda uma vida que vai ser mexida por causa do uso de uma substância que não pode ser consumida ou de uma disciplina a ser adquirida. É esta interferência que o Assistente Social realiza - principalmente na saúde - não se resolve com uma prescrição, pois se trata de realizar mudanças sociais na vida das pessoas.
Todo esse processo do paciente se submeter, assim como toda a sua família, às exigências do tratamento, os preconceitos e as rejeições, envolvem procedimentos relacionados a fatores psicossociais, que não são realizados por nenhum outro profissional da saúde, mas pelo Assistente Social, sendo que esta mudança é muito importante para a melhoria das condições de vida do paciente.
Nesse sentido, a atuação do Serviço Social junto ao paciente em tratamento de hemodiálise, se constitui no acompanhamento do paciente no sentido de enfrentar e superar a doença de forma menos dolorosa e dramática. Segundo Gentilli (1998), o Serviço Social é uma profissão que presta seus serviços, esclarecendo a população e principalmente as camadas trabalhadoras, de acordo com sua área de atuação.
Segundo Faleiros (1996), a informação constitui um eixo central para o direito e exercício da cidadania e para subsidiar a tomada de decisões dos indivíduos.
Assim sendo, Gentilli (1998, p. 57) comenta o seguinte:
Em relação as atividades que envolvem o atendimento individual, existem diversas situações que vão do processo " terapêutico " até a prestação de simples informações corriqueiras. O processo de prestação de informação é identificado por diversos termos, como "esclarecimentos" , "Orientações" , "aconselhamentos" , às vezes sem muita diferenciação conceitual entre as diferentes práticas que tais denominações identificam.
É neste contexto de participação e discussão que o papel do Serviço Social é importante na articulação das propostas dos usuários, buscando através das demandas apresentadas, entender os problemas que envolvem e da melhor maneira, pleitear junto aos usuários/pacientes, alternativas para o enfrentamento de situações problemáticas, apresentando informações corretas, relacionada ao que os usuários estão realmente buscando.
Como nos coloca Carvalho (1996), sem conhecimento, as relações sociais no cotidiano da população deixa de se apresentar como históricas conscientes, livres, igualitárias, afetivas, criadoras, integradoras para se reduzirem a instrumentos de dominação e opressão.
Por isso, o Serviço Social deve trabalhar no sentido de favorecer a autonomia individual e consequentemente coletiva, pois é assim que nos tornaremos "conscientes" e autores de nosso próprio envolver histórico, "que é a substância da sociedade" (Carvalho, 1996. p. 29).
Quanto ao entendimento dos pacientes sobre o que faz o Assistente Social, podemos identificar diferentes formas de entendimento.
Foto de paciente em Tratamento de hemodiálise.
(...) como tem que ser uma pessoa assistente social relacionada aos doentes renais? Ela tem que ser assim, uma pessoa amiga, aquela pessoa de qual o paciente precisa e tá sempre ali orientando, ela tem que tá bem informada a respeito da doença, prá pode orientar o paciente. Tipo, o paciente vai fazer o transplante ele tem que tá muito bem orientado. O que pode acontecer depois? Os cuidados que ele tem que ter? Visitar ir nas casa conhecer a base do paciente, porque as vezes você pode ajuda muito o paciente não é você só fazer o trabalho ali na clinica, ali o assistencial, mas tem que ir na casa conhece a raiz , então eu prá mim o Assistente Social teria que ser assim, começar na raiz prá depois chegar no trabalho bem estruturado (Paciente transplantada, mulher, 42 anos).
eu acho que o interessante é ir nas casas ou até chamar os familiares, para conversar e explicar a situação (...) Acho que precisa conversar com os familiares, que a gente precisa mais de atenção, os pacientes, não digo só por mim, tem gente que precisa de mais atenção da família (Paciente em tratamento de hemodiálise, mulher, 29 anos).
Eu entendo que o Serviço Social é dar informações aos pacientes que vem até ela para perguntar sobre medicamento, encaminhamento de exame, e todas essas coisas (...) (Paciente homem, transplantado 26 anos).
Podemos perceber, que no olhar do paciente, ele percebe o Assistente Social como aquela "pessoa", não profissional, que tem que solucionar os seus problemas. Porém, no olhar do Serviço Social, este profissional deve possibilitar para o usuário, analisar sua situação e agir de acordo com sua realidade, a fim de que o próprio usuário encontre as soluções para suas necessidades. Como coloca Vasconcelos (1994, p. 17):
"Podemos afirmar que o Assistente Social não 'empurra as pessoas para frente, nem as puxa pelas mãos', mas possibilita que elas se voltem sobre seu cotidiano numa atitude investigativa, analítica, crítica".
Ainda de acordo com as colocações de Vasconcelos (1994, p. 31)
(...) o Assistente Social participa não como um mágico que tem as respostas para as questões colocadas, mas como um profissional que detém um saber que serve de instrumento, para si e para os usuários, enquanto sujeitos deste processo. Assistente Social e usuários incorporam e manejam instrumentos de indagação num processo de ação/reflexão/ação continuas e inacabadas na busca de alternativas para as demandas apresentadas.
No que se refere às necessidades dos pacientes e que eles acham que o Assistente Social pode contribuir mais do que está contribuindo, relataram o seguinte:
(...) é ir visitar os pacientes, orientar a família. Porque o grande problema, na verdade, não é o paciente em si, porque o paciente está sendo orientado, ele tá ali na Clinica (...) o que falta nesse lado é ir visitar a família, é orientar a família, é harmonizar a família, porque assim, a partir do momento que tem um paciente doente não são todos os caso, mas o paciente começa a ser (..) mas ele começa a se sentir o estorvo da família (...) começa a ficar nervoso, e ele começa a trazer os problemas prá família. Então tem que orientar a família como reagir (...) A Assistente Social ela teria que fazer mais esse tipo de trabalho (...) Eu vejo, até teve um caso ali, duma família (...) a gente tá tendo problema assim, um filho não quer o velho, o outro não quer, então tá dando uma complicação grande., e isso esclarece a família, ela precisa saber como é que funciona, como é esse tratamento, de que forma o paciente reage. Porque a gente, o doente renal assim e principalmente quem faz hemodiálise, mas a gente muda o temperamento da gente, mexe com o psicológico. Então a base do paciente se torna assim muito agressiva, tem horas que tu tá bem, mas assim como tu tá sorrindo de repente te dá uns nervos, você fica agressiva, (..) Eu vejo que, se eu tivesse um acompanhamento na época com uma Assistente Social que viesse na minha casa me orientar, principalmente a família porque o paciente em si, ele age assim é por causa do sistema dele que está abalado, (..) te dá uma crise tão grande que não tem palavras prá explicar, porque a gente fica num nervoso que tem horas, que dá vontade de 'esmagar a cabeça'. Nessa hora que a família deveria ajudar, acabam deixando a gente mais nervosa e até usando palavras de qual te magoam e você acaba pensando até em fazer besteira. A gente acha que tá sendo uma pessoa não amada, que foi que aconteceu comigo? Eu achava que na minha família ninguém me amava, ninguém gostava de mim e por que eles não sabiam do meu problema eles não estavam orientados pra me ajudar. Então eu era agressiva com eles eu tratava mal e eles me retribuíam da mesma forma (Paciente transplantada, mulher, 42 anos).
Como vemos, os pacientes entrevistados sugerem um assistente social mais próximo, na orientação da família e do paciente também. A família precisa ser esclarecida sobre os efeitos da doença e os cuidados com o paciente. A família exerce um importante papel em todo o processo de relação do paciente enfermo com sua doença, por isso é importante considerá-la como uma aliada poderosa na difícil tarefa de acompanhar um paciente crônico, sendo de suma importância para a equipe de profissionais. Não se pode esquecer que é a família que irá compartilhar com o paciente as perdas e limitações que a Insuficiência Renal Crônica impõe, que é a família que dará apoio e conforto nas horas de dor e angústia.
Já com relação ao acesso ao auxilio-doença, os pacientes relataram o seguinte:
Agora eu sou aposentada. Foi difícil de conseguir. Primeiro eu consegui o auxílio - doença depois eu me aposentei. Mas faz pouco tempo que consegui. Na época não tinha Assistente Social. Eu tive que eu mesma conseguir, a Assistente Social do INSS que me orientou, ou alguém falava que era prá eu ir ver no INSS, por que eu já tinha idade prá isso. Eu já tinha tentado trabalhar, aí eu paguei um ano de INSS e daí uma vizinha me ajudou, procuramos, tentamos até que deu certo (Paciente em tratamento de hemodiálise, mulher, 29 anos).
Não. Nada e também não tinha ninguém para te orientar, é por isso que eu digo: a Assistente Social é muito importante (...) porque tendo uma Assistente Social da qual se dedique e faça um bom trabalho, com certeza até o governo ganharia com isso, ele não vai tá perdendo com isso, pagando um Assistente Social e tendo um Assistente Social, vai ter retorno e um retorno muito maior do que ele vai dar prá aquela pessoa Assistente Social (...) Então como te digo, prá mim, posso te dizer com certeza, porque o que vou te dizer foi o que eu senti na pele a Assistente Social e Psicólogos são prá mim, são pessoas assim de qual é de grande ajuda prá qualquer tipo de problemas, não existe doença que não precisa deste tipo de profissional, não existe (Paciente transplantada, mulher, 42 anos).
Os pacientes portadores de insuficiência renal crônica são estigmatizados pela doença na sociedade, uma vez que, na maior parte das vezes, são improdutivos e dependem da família para sobreviver, tendo uma qualidade de vida que tende a piorar a cada dia, e só não é maior porque grande parte dos pacientes sequer chega a detectar o problema a tempo de iniciar a hemodíalise.
Nesse sentido, Sposati (1997) sinaliza a questão dos direitos, relatando que no Brasil há uma sociedade virtual quanto a aplicação dos direitos constitucionais, uma vez que, fala-se, escreve-se, mas não se cumpre, o que leva ao descrédito do que está na lei.
Segundo Cohn (1999), garantir o acesso da população à rede de serviços de saúde é função do Estado e das políticas que ele formula para viabilizá-lo. No entanto, o Estado exime-se de seu papel na garantia desses direitos.
Uma vez diagnosticada a insuficiência renal crônica e necessitando da hemodiálise, o Estado oferece o tratamento, através do Sistema Único de Saúde - SUS, que tem um custo de cerca de R$ 1.250,00 por paciente/ mês. Por outro lado, não garante o acesso ao tratamento dos problemas ou sintomas decorrentes da insuficiência renal, como cardiopatias (problemas de coração), hipertensão (pressão alta), problemas de visão, entre outros, bem como os medicamentos que estes doentes (cardiopatias e Hipertensão) necessitam e raramente encontram nos postos de distribuição do SUS.
Além disso, não há nenhuma política previdenciária específica para o doente renal. Nesse sentido, a atuação do Serviço Social procura viabilizar o acesso à saúde, bem como a informação sobre os direitos dos pacientes e sua autonomia. O Serviço Social tem um papel importante no processo educativo, dando prioridade a autonomia e controle do processo pelos próprios usuários, pressupondo uma prática de apoio e fortalecimento dos usuários. Dessa forma, caminha-se junto e de forma coerente, tendo em vista a superação das dificuldades e a conquista dos direitos sociais. Como podemos observar nas falas dos pacientes entrevistados.
Eu não sabia muita coisa não, (Quando não tinha Assistente Social), agora que tem Assistente Social eu tenho mais conhecimento, não é Tem a portaria 82 , mas agora que eu tô conhecendo ela (Paciente em tratamento de hemodiálise, mulher, 29 anos).
Como vemos, antes de ter um profissional de Serviço Social na clínica, o paciente não tinha conhecimento nenhum de seus direitos, agora, no entanto, começa a se inteirar das portarias, e dos documentos que o amparam enquanto paciente renal. No entanto, o baixo nível social e de escolaridade dos pacientes dificultam o acesso à informação e orientação sobre seus direitos e sobre a doença. Nesse sentido, Vasconcelos (1994, p. 02) coloca:
Os Assistentes Sociais na sua prática profissional se deparam com uma população desinformada a respeito de seus direitos sociais, dos conhecimentos que os técnicos tem acumulado sobre ela, dos recursos que pode utilizar, do seu movimento, das informações que os técnicos produzem e detém sobre o movimento das instituições (rotina, recursos, contradições, correlação de forcas). Essa desinformação contribui para que os usuários sejam utilizados pelas instituições e não as utilizem enquanto direito social, impedidos que então de ampliar, consolidar e exercitar sua cidadania.
Porém, cabe salientar que não se tem uma política previdenciária específica para o paciente renal crônico, como já exposto, pois a redução das problemáticas não dependem somente de uma atuação eficaz, mas também de toda uma estrutura institucional e burocrática que está diretamente vinculada da forma como a saúde pública é tratada no Brasil, sem um trabalho preventivo por parte dos órgãos públicos e do Estado. Parafraseando Vasconcelos (1994) os direitos sociais existem, porém não determinam que a população tenha acesso como tal, ou seja, o direito existe formalmente, mas dependendo da forma de usufruir, ele se transforma num objeto de favor e de doação.
Nesse sentido, acreditamos que os direitos sociais e o acesso à saúde, só se concretizam pela participação efetiva da sociedade de forma crítica e consciente, através da construção de sua cidadania, capaz de contribuir na introdução de mudanças profundas na sociedade, que transformem o direito formal em direito real.
O Serviço Social na saúde está cada vez mais ganhando espaço e o trabalho desse profissional é fundamental na garantia dos direitos da população usuária desses serviços, bem como para a equipe interdisciplinar.
A interdisciplinaridade é fundamental na construção e articulação entre as diferentes práticas sociais. Dentro do vasto campo em que as profissões se movimentam, cabe ao Assistente Social ser o elemento que favoreça essa prática interdisciplinar, uma vez que a sua formação o prepara para tanto.
Acredito que o Assistente Social é um dos profissionais mais habilitados para trabalhar na equipe interdisciplinar, pois o mesmo tem capacidade técnica para incorporar novos conhecimentos e/ou conhecimentos específicos à sua atuação profissional, dependendo aí do local em que vai atuar, tem percepção política para lidar com as mais diferentes correlações de forças que aparecem no seu cotidiano profissional e tem postura ética para lidar com situações conflitantes (Assistente Social "A").
A interdisciplinaridade é muito importante, uma vez que proporciona uma abordagem e uma atenção integral ao usuário, que se encontra fragilizado diante de sua necessidade de saúde.
O Assistente Social é considerado um profissional muito importante que atua na equipe. Percebe-se isso quando se analisa através das entrevistadas como era sem o trabalho do Serviço Social.
Durante o ano que trabalhei como secretária, percebi o quanto os pacientes sentiam-se abandonados muitas vezes pela própria equipe técnica e principalmente pela família, além, é claro de não saberem ou saberem de forma muito limitada os motivos que os levavam a fazer esse tratamento" (Assistente Social "A").
Assim, podemos analisar a importância que o profissional de Serviço Social tem e faz na equipe interdisciplinar, como conhecedor de um novo saber que realmente conhece a realidade do paciente e sua família, sendo isso fundamental para a equipe.
Na equipe interdisciplinar, o Assistente Social é o profissional que melhor conhece as necessidade do paciente e seus familiares, e da correlação que existe entre essas necessidades e as condições sociais que deverão ser levadas em consideração, o que faz dessa função uma das mais importantes atividades desenvolvidas por ele no campo da Saúde.
O profissional de Serviço Social acompanha o paciente e seus familiares em sua rotina, e tem por finalidade prestar assistência ao paciente atendendo às suas necessidades, proporcionar uma melhor qualidade de atendimento, detectar problemas que desencadeiam sua doença, intervir a nível preventivo no que diz respeito à sua problemática, e colaborar com a equipe interdisciplinar para facilitar o atendimento integrado.
A relevância do Serviço Social na equipe interdisciplinar é como produto de um novo saber que associado com o medico com o enfermeiro produz uma visão do todo; Pois o Assistente Social sabe onde mora o paciente, quais os problemas familiares, quais as dificuldades, o que ele esta pensando do tratamento. E com essa troca de conhecimentos há uma interação maior do paciente com a equipe (Assistente Social "B").
Como vemos, o Serviço Social é o mediador entre a clinica e o paciente e vice-versa. O Assistente Social deve ter a compreensão da individualidade e das características tanto do paciente/usuário, quanto da instituição (clínica), bem como a compreensão dos recursos e das influências do meio social. Tarefa esta, muitas vezes difícil, diante da carência ou ausência de recursos com que se defronta na prática. Portanto, a redução das problemáticas não depende somente de uma atuação eficaz, mas também de toda uma estrutura institucional e burocrática que está diretamente vinculada da forma como a saúde pública é tratada no Brasil, isto é, de forma ineficiente e principalmente, sem um trabalho preventivo por parte dos órgãos públicos.
Podemos observar que o que ocorre na maioria das vezes, é a falta de condições financeiras e de recursos, bem como uma rede de serviço mais ampla, pois como vemos nos depoimentos, muitos municípios fornecem os benefícios pautados no assistencialismo, não porém, como direito do paciente.
Nesse sentido, um aspecto importante é possibilitar que os outros profissionais, como médicos, enfermeiras e nutricionista conheçam os aspectos psicossociais que envolvem o paciente e, ao Serviço Social, conhecer os aspectos clínicos tendo como fim o bem-estar do paciente renal crônico e sua família.
Além das limitações elencadas, podemos identificar também possibilidades presentes nos depoimentos das Assistentes Sociais.
O campo do Serviço Social é um leque que cada vez esta se abrindo mais isto é ótimo; hoje temos campos de trabalho em varias áreas isso nos possibilita um repensar a profissão no sentido de estar garantindo um bom trabalho com resultados práticos e respostas para as varias demanda que se apresentam. Sabemos que não temos a solução para todos os males sociais mas podemos usar estratégias de ação para encontrar alternativas no nosso local de trabalho, com criatividade e espirito de equipe todos podemos alterar a ordem existente porque não (...) Se não tentarmos nunca saberemos (Assistente Social "B").
(...) nós Assistente Sociais somos um dos profissionais melhor preparados para atuarmos nessa realidade que se coloca para todos os cidadãos brasileiros. Mas é preciso ser estratégico para não perder essas oportunidades, de poder refletir com outras profissões sobre as várias faces da sociedade (Assistente Social "A").
Como vemos, de acordo com as opiniões das Assistentes Sociais, o Assistente Social é um profissional capacitado e preparado para atuar na equipe de saúde, com a ressalva de que é preciso ser estratégico e criativo para encontrar novas alternativas na atuação profissional, articulando com os demais profissionais da instituição.
Para ser criativo e desenvolver novas alternativas de atuação, o profissional de Serviço Social também necessita de um embasamento teórico metodológico para o desenvolvimento de seu trabalho junto ao paciente renal.
As orientações teórico metodológicas constituem meios de trabalho na busca de diferentes propostas para a atuação do profissional. O Conhecimento é um meio pelo qual se entende a realidade e que norteia a ação a ser desempenhada.
Trabalhar com paciente renal crônico exige um preparo teórico-metodológico que vai muito além da linha teórica mais enfatizada na universidade, especialmente no curso de Serviço Social, que é materialismo histórico-dialético. Esse método proposto por Marx é excelente para podermos fazer análise macro-social. Especificamente para a área da saúde (...) esse método propicia uma análise crítica de como se constrói as políticas de saúde pública, o acesso aos direitos sociais com relação a saúde pública, a reforma do Estado, que prevê um Estado mínimo na área social, as correlações de forças, de poder que existem no interior da sociedade, a participação dos sujeitos sociais quanto a efetivação de seus direitos, etc.. Temos aí renomados autores que trabalham nessa perspectiva teórica, desde os clássicos até os contemporâneos, dos quais cito: (Iamamoto, Neto, Faleiros, Bobbio, Marx, Gramsci, Draibe, Fleury, dentro outros). Mas não se pode esquecer que lidamos com pessoas, com seres humanos, que possuem sentimentos, (e aí falando dos renais crônicos) que quando estão em tratamento de saúde passam por um profundo sofrimento psíquico. E é nesse aspecto que o Serviço Social ainda precisa melhorar, por isso, confesso que ainda buscamos literaturas que atendem essas questões, mas podemos citar algumas que atenderam nossas expectativas até o momento (Arendt, Focault, Dejours, Agnes Heller, Boaventura, Zigmund Baumann e outros) Não se trata de termos ecletismo em nossas análises e intervenções, trata-se, acima de tudo, de termos capacidade para lidarmos com a pluralidade teórica. No momento em que o paciente e o familiar são informados da doença e de todas as transformações que irão acontecer na sua vida, o que elas querem é atenção e respeito aos seus anseios sobre sua nova vida. Eles querem que o Assistente Social dê a eles o que na maioria das vezes não tiveram com um profissional da saúde: esperança de levar uma vida melhor, e de que o tratamento será sua salvação. Após trabalhado essa questão, então se trabalham outras, a nível político e social (Assistente Social "A").
O primeiro embasamento teórico feito foi buscar na área da saúde um pouco de sua historia, ou seja, a área da saúde esta marcada por várias conquistas importante, como por exemplo a conquista do SUS e da emenda Constitucional da Saúde. O sistema único de saúde surgiu com a constituição de 1988 fruto de muita luta; com ele foi implantado no Brasil um sistema universalizante e integral de saúde, ou seja, todos mesmo aqueles que não pagam previdência social passaram a ter direito de acesso ao sistema de saúde em todos os níveis de atenção. Com o SUS metade da população brasileira deixou de ser indigente e passou a ser cidadão com direito à saúde. Porem mesmo com os direito assegurado pela constituição persistem os problemas de financiamento para área de saúde. A emenda provada este ano prevê que o mínimo de recursos dos municípios, Estado e da União sejam aplicados para a saúde; estas conquistas se devem a uma longa e vitoriosa historia da organização da sociedade civil. Porem os problemas na área de saúde continua. Um dos maiores problemas é a garantia dos acesso aos serviços a questão da qualidade do atendimento. Mas para trabalhar com paciente renal crônico precisamos ter uma visão de analise macro social; Para isso contamos com subsidio de vários autores com por exemplo, Chistian Gauderer, Amélia Cohn, Edison Nunes, Pedro R. Jacobi, Ursula s. Kasrsch, José Paulo Neto, Bernardo Kliksberg, Iamamoto, Faleiros, Marx, Gramsci entre outros (Assistente Social "B").
O Serviço Social na saúde se utiliza também de publicações que se referem a aspectos clínicos que não é o principal interesse do Serviço Social, porém muito importante a fim de que os encaminhamentos possam realmente ser realizados de maneira eficaz e que atenda a necessidade do paciente renal.
Segundo o que ficou evidenciado no relatório final na 8º Conferência Nacional de Saúde, a política de saúde atual observa a utilização de um concepção abrangente de saúde, citado por Teixeira (1995, p. 30):
A saúde não é um conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento do seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
Considerando o que diz Teixeira, o Assistente Social é o profissional que melhor conhece, de forma profunda, a realidade e as necessidades do paciente . Além das implicações emocionais advindas da própria doença, o Assistente Social sabe que o paciente possui, na sua grande maioria, uma situação de precariedade sócio econômica.
Segundo Iamamoto (1999) o serviço social tem, na questão social, como objeto do seu trabalho, e através das políticas Sociais tem a forma de trabalhá-la nas suas diferentes formas em que se apresenta e é experienciada pelos sujeitos em seu cotidiano. Ainda segundo Iamamoto (1999, p. 62-63)
A noção estrita de instrumento como mero conjunto de técnicas se amplia para abranger o conhecimento como um meio de trabalho, sem o que esse trabalhador especializado não consegue efetuar sua atividades ou trabalho. As bases teórico-metodológicas são recursos essenciais que o Assistente Social aciona para exercer o seu trabalho: contribuem para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos à ação, ao mesmo tempo em que a moldam. Assim, o conhecimento não é só um verniz que se sobrepõe superficialmente à prática profissional, podendo ser dispensado; mas é um meio pelo qual é possível decifrar a realidade e clarear a condução do trabalho a ser realizado. Nessa perspectiva, o conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos pelo Assistente Social ao longo do seu processo formativo, são parte do acervo de seus meios de trabalho.
Como vemos, para realização do seu trabalho, o Assistente Social necessita de meios e instrumentos para que possa ser efetivado, ou seja, é a própria atividade direcionada a um fim que resulta em um produto. Assim, segundo Iamamoto (1999), tais meios e instrumentos estão presentes em qualquer processo de trabalho.
Como embasamento ético político, o Assistente Social tem como instrumento de apoio o Código de Ética, para a realização do seu trabalho.
O embasamento do direito e do respeito pelo usuário do Serviço Social, que está muito bem estabelecido no código de Ética do Assistente Social que é o leme norteado da prática profissional. (Assistente Social "B").
O embasamento ético-político é guiado pelo código de ética profissional. (Assistente Social "A").
Utilizando-se do Código de Ética, os profissionais de Serviço Social podem realizar um trabalho comprometido com os interesses da profissão, porém sempre estar atendo as transformações que ocorre na sociedade.
No entanto, para desenvolver seu trabalho dentro dos princípios do Código de Ética, o profissional de Serviço Social é confrontado com a atual conjuntura que está posta. Porém, diante desta situação é importante refletir sobre as ações e agir com clareza para obter bons resultados e acompanhar a realidade, estudando, lendo, buscando e analisando as potencialidades, oportunidades e riscos, através da revisão constante de todos os princípios que norteiam o Código de Ética, visando internalizar os valores e princípios éticos profissionais, criadores de novas posturas profissionais.
Vimos que para o paciente Renal Crônico, a doença crônica representa a entrada em um novo modo de vida, onde as limitações físicas, sociais e mentais exigem do paciente readaptações constantes devido às mudanças na sua vida profissional, social e econômica. Essas limitações dificultam sua reorganização e a estruturação emocional, pois ocorrem frustrações e fracassos em relação aos planos para o futuro, por isso a necessidade e a importância do apoio da equipe interdisciplinar, interferindo na redefinição dos problemas para a sociedade.
E ssa pesquisa foi feita no estado de Santa Catarina, na região Oeste do estado na cidade de Chapecó.